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Bambui

Em sua fazenda do Bamboí, o capitão-mor João Veloso de Carvalho deve ter se estabelecido por volta de 1720, segundo se depreende dos termos da sesmaria, concedida em 1737.

Na sua “Notícia” ao Pe. Diogo Soares, em 1731, o Alferes Moreira menciona esta fazenda como a última do São Francisco acima.Antônio Rodrigues Velho por aí também se estabeleceu pouco mais tarde. As sesmarias de ambos foram concedidas em 1737.

 

E, quando, anos depois, a Câmara de Pitangui entra em disputa com a de São José, pela posse do Bambuí, a primeira cita como argumento ter sido o lugar povoado primitivamente por aqueles dois “súditos de Pitangui”. Explorações várias houve pela região. E o estabelecimento dos sesmeiros, em 1737, após a abertura da Picada de Goiás, foi efêmero e não deixou raízes; poucos anos depois de se instalarem, foi a região invadida por negros aquilombados e gentio Caiapó, ficando as sesmarias abandonadas. Só depois de 1743, começaram a voltar os antigos sesmeiros e alguns novos se foram fixando. 

O devassamento da região e seu povoamento mais intenso só tiveram lugar depois das entradas de Pamplona. Dando-se crédito às palavras do próprio Inácio Correia Pamplona (talvez nenhum outro português tenha escrito tão copioso número de cartas ao governador e, em todas, nota-se a preocupação do autoelogio), fez ele, ao todo, seis entradas. A primeira, em 1765, foi realizada com um grupo de gente disposta a fixar-se: José Álvares Denis, Antônio Afonso, João Rodrigues de Souza, Antônio Afonso Lamounier, Inácio Bernardes de Souza, José Antônio Bastos, José Fernandes Lima, Manoel Coelho Pereira, Simão Rodrigues de Souza, José Rodrigues de Souza, Jacinto de Medeiros, Antônio José Bastos, Manoel de Medeiros, Domingos Antônio da Silveira, Leonardo Lopes e Pedro Vieira de Faria, além de numerosos escravos. 

A estes foram concedidas sesmarias de três léguas, assim de largura como de comprimento, em 1767; aproveitando a oportunidade, Pamplona, além da sesmaria do Desempenhado, que obteve para si, conseguiu outras tantas para seus filhos ‘Simplícia, Rosa, Teodósia, Inácia e Timóteo. Outros se foram fixando nas sobras de terras, na paragem do Bambuí, como José da Costa Ferreira, que obteve sesmaria em 1768; isto provocou veemente representação de Pamplona e demais companheiros, que alegaram despesas e risco de vida, enquanto esses outros pretendiam apenas aproveitar-se do trabalho alheio. No seu despacho, o capitão-general deu-lhes inteira razão, prometendo só conceder novas sesmarias, depois que todos os entrantes se achassem definitivamente estabelecidos.

A primeira providência dos novos moradores foi levantar a capela de Santa Ana, o que mereceu elogio do Conde de Valadares: “principiar pela Casa de Deus fez muito bem”. Nessa carta, confessa o governador a Pamplona: “muita gente me tem pedido sesmarias nesse sítio e todas tenho a você. mandado informar” (25-setembro-1769). A segunda expedição de Pamplona, com intuito de sobretudo dar combate a índios e negros aquilombados, deu-se em 1769; foi uma grande expedição, com cérea de 100 homens, além do capelão, cirurgião, botica e escravos. O capelão foi o vigário de Aiuruoca, Pe. Gabriel da Costa Resende, que celebrou missa e tomou posse da conquista. Houve uma expedição em 1773, chefiada por Gabriel José de Rezende, e na qual tomou parte o próprio vigário de Bambuí, tendo por finalidade a pesquisa do ouro pelas redondezas, segundo ordens expressas do capitão-general. 

Pamplona organizou outra, em 1781, não indo além da serra da Marcela, fazendo sindicância a respeito de uma denúncia de descobrimento de ouro. Outra entrada se fez, na ausência de Pamplona, embora por ele organizada; seguiu em 1782, sob a chefia do capitão João Pinto Caldeira, exclusivamente para combate a negros e caiapós. Pamplona andou ainda pelo rio Dourados, pelo caminho de Paracatu, teve seus encontros com soldados de Goiás… Afirmar que Pamplona destruiu os terríveis Caiapós, como fazem alguns autores, é puro exagero. Quando o ilhéu fez sua primeira entrada, em 1765, já essa nação achava-se quase completamente dizimada; havia, por assim dizer, remanescentes daquela nação que sofreu, talvez, a maior e a mais prolongada guerra de destruição de que há memória, em toda a América. Pamplona, por sua vez, gostava de enaltecer seus feitos. 

Assim, por exemplo, numa carta de 1781, refere-se a “não trilhados matos”; em outra, do mesmo ano, datada da serra da Marcela, dizia: “Lembre-se de quem ~ente está habitando com bichos e feras e outros de semelhante natureza, em tal lugar, que é preciso escorvar as armas todos os dias”. Em 1768, estava formado o arraial, e segundo informa o Cônego Trindade, baseado na Relação das Freguesias do Bispado, estava instituída a freguesia de Bambuí, por ato episcopal. Realmente, no “Livro de Lotação das Freguesias deste Bispado de Mariana” (Arquivo Eclesiástico de Mariana), lê-se: “Por provisão ordinária de 1768 foi erigida a freguesia de Santana do Bambuí, naqueles sertões”. 

O patrimônio da capela fora doado pelo próprio Pamplona e constava de meia légua de terreno “nas circunferências do arraial”. E, o que era então comum, teve início a disputa pela posse do novo povoamento que surgia. A Câmara de São José, por seu procurador, tomou posse da região, “nesta paragem da Matriz de Santa Ana do Bambuí”, a 5 de julho 1769. E, a 27 de agosto de 1770, “neste arraial da Senhora Santa Ana do Bambuí”, verificou-se a ratificação da posse pela mesma Câmara, “de todo o continente da parte de cá do São Francisco”, todo o território do arraial… A palavra arraial é repetida várias vezes no ato da ratificação, enquanto não consta do termo de posse. Tem-se a impressão de que ele se formou entre julho de 1769 e agosto de 1770. O vigário e a Câmara de Pitangui tiveram também suas pretensões.

Ao vigário de Pitangui, escreveu o Conde de Valadares uma carta, a 17 de outubro de 1770, na qual afirma: “fiz entrar para o Campo Grande, Bambuí e suas vizinhanças bastantes pessoas e os fiz arranchar nestas partes, mandando-lhes que todos concorressem para o estabelecimento de uma igreja…” Em 1781, é o vigário de Paracatu que intenta apossar-se do arraial de Bambuí, para a diocese de Pernambuco. A fim de evitar contenda, propôs o Bispo de Mariana que fosse o litígio resolvido pelo rei; mas o vigário de Paracatu preferiu “a invasão pelas vias de fato”. Um pouco mais tarde, o vigário geral de Mariana tomava providências a favor do vigário de Bambuí, contra pretensões do vigário de São Domingos do Araxá, que pretendia anexar Bambuí à diocese de Goiás. 

Em 1784, o governador Luís da Cunha Meneses criou, “para conservação do social sossego público da conquista do Bambuí’ e defesa da mesma, uma Legião sob a chefia do Mestre de Campo Pamplona, composta de oito companhias de cavalaria com 50 praças cada uma, e seis de infantaria, com 150 praças cada uma, e mais catorze esquadras de vinte soldados pedestres cada uma, perfazendo um total superior a 1.500 homens da conquista, isto é, Bambuí e seus anexos. Uma companhia de Ordenanças veio a aparecer em 1798. O Conde de Valadares sempre tratou com especial deferência o Mestre de Campo Inácio Correia Pamplona; chegou a autorizá-lo a conceder sesmarias naquela conquista; e de fato, em 1769, Pamplona doou cento e tantas sesmarias. Não conseguimos infelizmente descobrir os nomes dos sesmeiros. Pelo governador mesmo, a maioria foi concedida em 1800 e principalmente em 1801. 

Assim, as de João Rodrigues de Souza, Frutuoso Domingues, Antônio Dias Ribeiro, Manoel Pinto etc. Os diplomas das sesmarias, mesmo das doadas na Perdição, como as de Manoel de Freitas Souza, Manoel Dias de Oliveira e outras, fazem referência à freguesia de Santana do Bambuí. O próprio governador, ao organizar a expedição de 1773, dirigiu-se ao vigário da freguesia de Bambuí, a quem deu a incumbência de participar da entrada. Entretanto, a paróquia fora instituída apenas por ato episcopal. Faltava o diploma do poder civil de sua instituição. 

A criação oficial da freguesia verificou-se pelo alvará de 23 de janeiro de 1816 (Cônego Trindade cita data diferente; foi um equívoco do Mestre). O primeiro vigário colado, Pe. Domingos José Bento Salgado, extraordinário sacerdote, extremamente zeloso, depois de paroquiar por muitos anos, viveu o último quartel de sua vida encerrado numa dependência da igreja de N. Sra. da Conceição, construída, diga-se de passagem, à sua custa. O referido vigário, impossibilitado de andar, preso a uma cama, dedicou seu tempo à confecção de imagens de madeira, que fabricava com rara perfeição. O Pe. Domingos José Bento Salgado era natural de Queluz (Conselheiro Lafaiete), filho do licenciado João Pinto Salgado e de Tereza Angélica de Jesus; ordenou-se em 1797 e foi coadjutor do vigário de Queluz e capelão (1810-1811) da Ermida das Dores (Capela Nova) (in Capela Nova, Pe. José Vicente César). Era muito exigente e repreendia com severidade os abusos dos que levavam vida irregular; sofreu, por isso mesmo, tremenda campanha de calúnias e difamação.

O Bispo de Mariana, recebendo as denúncias, quis ouvir várias testemunhas e verificou a falsidade das denúncias (do Livro de Visitas Pastorais de Dom Frei José da Santíssima Trindade — 1822-1826 — Arq. Eclesiástico de Mariana). O município de Santana do Bambuí surgiu com a lei provincial n° 2.785, de 22 de setembro de 1881, quando Bambuí foi elevada à categoria de vila, com aquela denominação, isto é, Santana do Bambuí. A lei n° 3.387, de 10 de julho de 1886, deu a Bambuí a condição de cidade. 

O significado do vocábulo Bambuí tem motivado vários estudos, inclusive de Nélson de Sena. Para Frei Francisco dos Prazeres, dr. Domingos Jaguaribe e o próprio Teodoro Sampaio, o sentido é rio dos bambus. Ora, bambu, afirma Maximino Maciel, é têrmo malaio introduzido no Brasil pelos navegantes portuguêses. Neste caso, Bambuí seria vocábulo híbrido, o que não nos parece muito provável. Martius traduz a palavra assim: fluvius pituitae, sordidus, o que se pode entender por rio de águas sujas; esta é também a opinião de Carlos Copsey. 

Para J. Barbosa Rodrigues, a palavra seria alteração de Bang-Puy, ou seja, rio de gravetos torcidos ou cipós. Nélson de Sena lembra que Bambuí poderia ser uma aglutinação de Bamba, termo quichua introduzido no Brasil pelos tupis ocidentais e equivalente a Pampa, significando planície, campo; e de Bambaí teria resultado Bamboí e Bambuí, que seria rio de planície. 

A propósito, queremos deixar aqui dois lembretes aos que porventura possam interessar-se pelo assunto: o primeiro é o conselho de Teodoro Sampaio, no sentido de verificar-se a grafia primitiva, constante dos mais antigos documentos, e, depois disso, tentar o estudo etimológico; ora, o mais antigo que conhecemos é o “Mapa de todo o Campo Grande tanto da parte da Conquista…”, no qual se vê “Mamboy”; em outros vários documentos e mapas, inclusive o de L. M. S. Pinto, lê-se “Bambohi”; eu outros, Bamboy. O segundo lembrete é o seguinte: Armando Levi Cardoso chama a atenção para nossa tupimania; quem sabe será o vocábulo um amerigenismo de outra origem, que não o tupi?

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