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Uberaba

Qual o significado do têrmo Uberaba? I. Xavier Fernandes (Topônimos e Gentílicos, vol. II, pág. 69) dá o significado de “água brilhante”. E explica: u = água; varava = resplandescente. Já Augusto de Lima Júnior acha que o topôniniô é “corruptela de Uberaba é que, na língua dos índios Caiapós, dominantes na região, é nome de uns palmípedes pernaltas de vivo colorido” (Rev. de História e Arte, nºs 3 e 4, pág. 70).

Martius (Glassaria Linguarum Brasiliensium, pág. 517) dá: “Oberava, Uberava (Mato Grosso, lagoa) — oba = fôlha, gema de palmeira; yroba = amargosa: cor palmae amarum”. Parece-nos, data venia, que a explicação de Martius é a que mais se aproxima da verdade. Segundo a orientação de Teodoro Sampaio, que aconselha se verifique primeiramente a grafia primitiva, nós concluímos que, nas mais antigas
sesmarias concedidas pelo govêrno de Minas, menciona-se JAOVERAVA. Na de Bento Magalhães Portilho (18-junho-1818), lê-se: “nas margens do rio Jaoverava” (C. 377, fl. 154, A.P.M.); na de Tomé Pinto de Almeida (13-setembro-1821); “ribeirão Jaoverava” (C. 384, fl. 105v., A.P.M.); na do capitão José Joaquim Carneiro (11-abril-1820): “nas margens do rio Jaoverava legítima” (C. 387, fls. 137, A.P.M.); em duas outras, na de Januário Luís da Silva (8-janeiro-1820) e na do Tte. Mateus Cardoso Parreiras (23-junho-1818), vê-se “Jaoverava”. Na sesmaria •de Floriano José Marques (6-junho-1820), lê-se, pela primeira vez, “rio Oberava” (C. 384, fl. 43, A.P.M.); e na do Alferes João Pereira da Rocha (19-maio-1821): “paragem denominada Oberava” (C. 384, fls. 96, A.P.M.); e na de José Álvares de Resende (23-fevereiro-1821), já aparece “rio Uberava” (C. 384, fl. 87v, A.P.M.). Carta do sargento-mor Antônio Eustáquio da Silva Oliveira está assim datada: “Hoberava, 3 de junho de 1822” (Avulsos, A.P.M.). Na sesmaria de Joaquim Patrício Machado Sobrinho (28-julho-1820), lê-se “rio Obuerava” (C. 384, fl. 39, A.P.M.). Essa variedade de grafia, em parte, pode ser atribuída a êrro, cousa muito comum; entretanto, verifica-se indubitàvelmente uma evolução da grafia, até firmar-se Uberaba. O que nos parece certo é que, nas primeiras grafias, o têrmo é Jaoverava; ora, o prefixo “ja=ia” aparece com freqüência, significando fruta. Desta forma, o vocábulo primitivo seria fruto da gema ou gomo de palmeira amargosa ou, em outras palavras, o palmito-amargoso (Barbosa pseudococos), tão comum nos nossos sertões. Desemboque foi um centro de explorações de vasta zona do antigo sertão da Farinha Podre. Em 1807, um grupo partiu do Desemboque e percorreu a região de Uberaba: Januário Luís da Silva, Pedro Gonçalves da Silva, José Gonçalves Heleno, Manoel Francisco, Manoel Bernardes Ferreira, Antônio Rodrigues da Costa e outros, depois de se apoderarem de algumas terras, regressaram ao Desemboque, seja por falta de mantimentos, seja pelo receio dos Caiapós. Entretanto, transmitiram a Antônio Eustáquio da Silva a magnífica impressão causada pelas campinas verdejantes e por terreno promissor. Antônio Eustáquio, homem em-preendedor, espírito aventureiro, mais tarde nomeado sargento-mor, foi designado Comandante Regente dos sertões da Farinha Podre, por ato do govêrno goiano, de 27 de outubro de 1809. Investido dessa função, organizou um grupo de cêrca de 30 homens e, em julho de 1810, partiu a expedição; apossaram-se de terras, iniciaram suas roças. Alguns ficaram, enquanto Antônio Eustáquio e outros regressaram a Desemboque. Em 1812, seguiu Antônio Eustáquio de nôvo, levando em sua companhia, entre outros, o Pe. Hermógenes Casimiro de Araújo Bruonswik, vigá-rio do Desemboque. Neste ano de 1812, no sítio chamado Lajeado, foi levantada pequena casa de oração, onde foram colocadas as imagens de São Sebastião e Santo Antônio. Nas cabeceiras do Lajeado (não o atravessado pela Mogiana, mas outro do mesmo nome, que fica à direita de quem chega a Uberaba por essa ferrovia) surgiu o primeiro povoado. Antônio Borges Sampaio, o historiador de Uberaba, informa que aí se localizara a primeira sesmaria concedida pelo govêrno goiano, na região, a 25 de janeiro de 1803, a José Gonçalves Pimenta, que a vendeu, em 1806, a José Francisco de Azeredo, natural de Bambuí, o qual teria construído, por volta de 1807, a primeira capela dedicada a S. Sebastião e Santo Antônio. Na segunda viagem. que Antônio Eustáquio fez (33 expedição partida do Desemboque), descobriu ele um local melhor e mais apropriado para uma povoação, com abundância de água, a cerca de duas léguas e meia de distância (Odorico Costa menciona a distância de 18 km). Aí construiu um “retiro”, na margem esquerda do córrego da Laje. Edificou outra casa, a 2 km de distância. Outros moradores foram atraídos para esse local. Em breve, surgia a capela, sob a mesma in-vocação de S. Sebastião e S. Antônio. Por escritura de 28 de dezembro de 1812, Tristão de Castro Guimarães e sua mulher, Frutuosa Rodrigues, constituíam o patrimônio da capela, para o que doaram uma légua de terras, “confrontando ao norte, com o córrego do Lajeado abaixo, até fazer barra no ribeirão do Uberaba e, por êste abaixo, até onde chegarem as terras dos índios”. Aí funcionou, como capelão, Pe. José de Morais, substituído, em 1814, pelo Pe. Fortunato José de Miranda. Êsse padre Fortunato José de Miranda obtinha, em 1818, sesmaria de três léguas de comprimento e uma de largura “no sertão da Farinha Podre, ribeirão da Bagagem… as quais confrontam com o sertão baldio…” (C. 377, fl. 163, A.P.M.). A fama da salubridade do clima e da fertilidade do terreno foi atraindo novos moradores, não só do primitivo povoado, como principalmente do Desemboque. Uma carta de Antônio Eustáquio, datada •de “Hoberaba, 3 de junho de 1822”, informava: “Não havia pessoa alguma que comprasse qualquer efeito, mas depois que se principiou a cultivar o terreno que habitamos, afluiram para êle bandos de moradores, que hoje fazem o número de 2.000 pessoas” (Avulsos A.P.M.). A fertilidade do terreno era realmente decantada; numa carta do Pe. Leandro Rabelo Peixoto de Castro ao Presidente da Província, de 2 de outubro de 1827, depois de referir que estêve no Colégio de Campo Belo (Campina Verde) e estava de volta a Matozinhos, acrescenta: “Não posso deixar de dizer que na minha viagem ao sertão do Novo Sul da Farinha Podre, vi, talvez, o mais fértil terreno da América”. Foi essa fama que atraiu mais moradores para a região. Todo o distrito da Farinha Podre, ou seja, o atual Triângulo Mineiro, por ato de D. João, de 4 de abril de 1816, passou a pertencer a Minas Gerais, graças à interferência dos moradores de São Domingos do Araxá, que alegaram dificuldades resultantes da distância de cerca de 140 léguas dos magistrados goianos. Para maiores esclarecimentos sobre essa transferência, o leitor poderá procurar o verbete Araxá. Tem-se a impressão de que o povoado tomou impulso maior por volta de 1818; é o que se deduz do registro feito por Saint Hilaire: “Povoação de urnas trinta casas, dispersas sem ordem, dos dois lados do ribeirão, todas, sem exceção, foram construídas recentemente (1819); algumas, até, por ocasião de minha viagem, não estavam ainda acabadas; algumas são grandes para o país e bem construídas” (Viagens às Nascentes do Rio São Francisco…, pág. 290). E foi em 1818, que o Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Bruonswik requereu ao prelado de Goiás, ratificasse a ereção da capela de S. Sebastião e S. Antônio, “na margem do ribeirão Berava”, sendo atendido pela provisão de 20 de julho de 1818. Idêntico requerimento foi dirigido a D. João VI que, por alvará de 3 de agôsto de 1818, concedeu a licença para a capela de “S. Sebastião e S. Antônio da Berava”. A bênção solene da mesma foi realizada a 19 de dezembro de 1818. O arraial cresceu com rapidez. E a carta régia de 2 de março de 1820 criou a paróquia; como primeiro vigário, tomou posse, a 17 de setembro de 1820, Pe. Antônio José da Silva, que paroquiou até 1855, e escreveu interessante memória sôbre os primórdios de Uberaba.

Um abaixo-assinado dos moradores da freguesia de Santo Antônio e São Sebastião do Uberaba, têrmo do Julgado do Desemboque (sem da-ta, mas contém referência a uma resolução do Conselho Provincial de 1830 e encontra-se no meio de outros papéis de 1832), pedia a elevação da paróquia a vila. Há queixas amargas contra as autoridades do Desemboque e informa a certa altura: “Contém mais de 100 fogos habitados e o resto da freguesia, mais de 700, formando o número de mais de 6.000 almas” (Avulsos, A.P.M.). A elevação de Santo Antônio do Uberaba a vila, com a criação do município, só se verificou com a lei nº 28, de 22 de fevereiro de 1836. A lei nº 759, de 2 de maio de 1856, elevou Uberaba à condição de cidade. Neste ano de 1856, foi demolida a igreja e, no local, foi construído um cemitério, coincidindo que o portão do cemitério se localizou no mesmo ponto em que estava a porta da igreja. que,
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segundo informa Antônio Borges Sampaio, desde 1848, vinha sendo construída a Matriz nova, iniciativa do capitão Joaquim Antônio Rosa, e sob a mesma invocação: S. Sebastião e S. Antônio. Entretanto, no Arquivo Público Mineiro encontra-se um ofício do Presidente da Câmara de Uberaba ao Presidente da Província, com data de 23 de novembro de 1852, no qual informa que, desde que a povoação fora elevada à categoria de freguesia, “há mais de trinta anos”, trabalha-se na construção da matriz. Informa ainda que está quase acabada, faltando apenas o altar-mor, os púlpitos e a pintura (Avulsos, A.P.M.). Foi criada a comarca pela lei nº 171, de 23 de março de 1840, com o nome de comarca do Paraná, mudado para o de Uberaba, pela lei nº 2.500, de 12 de novembro de 1878. O verdadeiro fundador de Uberaba, o sargento-mor Antônio Eustáquio da Silva Oliveira, que fora nomeado Comandante do distrito e Curador dos índios, por ato de 3 de fevereiro de 1811, viveu em sua casa, no arraial, até 1832, quando faleceu. As Câmaras Municipais do Triângulo, em número de treze, pediram ao Santo Padre, em 1895, o desmembramento da região da diocese de Goiás, alegando distância e, ao mesmo tempo, pediam a criação da diocese de Uberaba. O próprio bispo de Goiás, D. Eduardo Duarte e Silva, pediu a criação da diocese de Uberaba, desmembrada da de Goiás (Anuário Eclesiástico da Diocese de Uberaba). Foi realmente criada pela bula de 29 de setembro de 1907, com o território do Triângulo, separado da de Goiás, mais as paróquias de Buritis, Rio Preto, Paracatu, Alegres, Santa Rita de Patos, Catinga, Abadia, Canabrava, São Romão, Formosa, Ca-pão Redondo, São João do Pinduca,-desmembradas da de Diamantina. (Rev. A .P .M., I, VII e XIV). “Grande núcleo demográfico, industrial e agropecuário, esse município do Triângulo Mineiro é também uma praça comercial de primeira ordem, bastando dizer-se que, no Censo de 1950, aparecia com 2,1% do total das operações do gênero em todo o Estado. A produção manufatureira em 1954 ascendeu a cerca de 400 milhões de cruzeiros. Culturalmente, Uberaba sobressai por sua quota de alfabetizados, que é de 63%, quando no conjunto da Unidade Federal, ela não passa de 44%” (Flagrantes Brasileiros, nº 6, IBGE, pág. 43).

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