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Araxá

A cidade de Araxá festejou, a 19 de dezembro de 1965, o centenário de sua elevação à categoria de cidade. A bela e simpática comuna do Triângulo tem uma história cheia de lições de civismo e, como é de praxe, tem também suas lendas.
Araxá é filha do Desemboque. Depois, a filha superou a mãe. Desemboque foi um dos muitos arraiais auríferos surgidos no século XVIII. Segundo Antônio Borges Sampaio, sua matriz data de 1743. 

Informação muito mais segura, entretanto, esclarece-nos que, em virtude da derrama lançada em 1763, de 13 arrobas de ouro que faltaram para completar a coleção das 100, inúmeros moradores da região do Tamanduá se enfurnaram pelo sertão e se fixaram no Desemboque. Os mais antigos documentos conhecidos referentes ao Desemboque datam de 1763, confirmando a informação acima (ver Instalação dos Julgados de Desemboque e São Domingos do Araxá). A picada de Goiás ali não passava; e outra estrada que ligava São Paulo a Goiás, cortava o rio das Velhas um pouco mais abaixo, justamente onde se localizava o registro. 

A mineração prosperou e o arraial foi crescendo. Havendo ouro, há bons negócios em perspectiva; assim, mercadores paulistas passaram a ser atraídos para o novo arraial. De São Pedro de Alcântara e Almas do Jacuí partiam grupos de mercadores, com seus carregamentos de mercadorias, por uma picada que terminava no Desemboque. O ouro era ainda a grande fascinação; e, em 1768, Desemboque apresentava-se como arraial opulento. Mercadores em número cada vez maior, com intuito, de fugir ao fisco, evitavam o registro do rio das Velhas (hoje, Araguari), mais abaixo, e foram criando nova picada, além do Desemboque, rumo ao norte, forjando guias falsas do direito que deveria ser pago naquele registro. Assim, tornou-se conhecida a região onde se localiza Araxá. Mais tarde, quando sobreveio a decadência das minas do Desemboque (foram mais efêmeras que as outras), passaram os mineiros a dedicar-se à criação e, então, surgiram as primeiras fazendas na região de Araxá. Essa região já havia sido palmilhada pela tropa de Bartolomeu Bueno do Prado, que andou, em 1759, destruindo quilombos, desde o Paranaíba até a serra da Marcela, e tomou posse de todo o território para a Câmara de São João dele Rei. 

E o capelão da tropa, Pe. João Correia de Melo, celebrou missa por onde andou a expedição de Bartolomeu Bueno, tomando posse do território para o bispado de Mariana Isto foi o começo das disputas pela posse do sertão da Farinha Podre (nome português, trazido de Portugal, e que uma lenda de farinha apodrecida procura explicar). Aos poucos, a gente de Goiás, também atraída pelo ouro, foi-se imiscuindo na região. Em dezembro de 1764, já o governador Luís Diogo Lobo da Silva, protestando, embora, contra o esbulho, aconselhava calma e prudência às autoridades de Minas, isto é, ao comandante Gabriel José de Araújo Ferraz, do Desemboque, e ao cabo Antônio da Silva Lanhoso, de Jacuí. 

O Conde de Valadares, em 1768, dirigiu-se ao capitão-general de Goiás, pedindo mandasse retirar seus soldados do território de Minas. Foi este o único governador que agiu com certa energia, pois, no mesmo ano, ordenou ao capitão João Pedro de Carvalho, da vila de Pitangui, tomasse posse ou se reimpossasse e toda a região do Paranaíba, com as solenidades necessárias, e prendesse quem quer que quisesse nela penetrar com violência, sob a alegação de que pertencia a Goiás. Em 1778, era o capitão-mor da vila de São José, Pedro Teixeira de Carvalho, que protestava energicamente contra violências de soldados de Goiás, em terras povoadas por gente de Minas. Mas a política de prudência de nossos governadores foi dando impulso aos soldados de Goiás. D. Rodrigo José de Menezes chegou a escrever a Inácio Correia Pamplona, em 1781, ordenando que evitasse dúvidas com soldados de Goiás; mandou que os tratasse com “a urbanidade que devem observar entre si vassalos da mesma soberana”. 

Em resposta à carta de D. Rodrigo, Pamplona informava: não me esquecerei de que os soldados de Goiás “são vassalos da mesma soberana, e que não são de França nem de Castela, para que me atreva a inquietá-los”. 

Até Tiradentes, quando andava na “fatura” do caminho de Paracatu, em 1781, teve encontro com um cabo de Goiás; e foi elogiado por D. Rodrigo, pela prudência com que agiu. O fato é que os primeiros fazendeiros, ao se fixarem na região do Araxá, já obtiveram sesmarias do governo de Goiás. E esses primeiros moradores, André de Carvalho Matos, Francisco Gonçalves Pacheco, Antônio Pereira Pires, Martinho Monteiro Ribeiro, verificaram que, ali, não havia necessidade de dar sal ao gado. A notícia se espalhou e atraiu novos moradores. 

O sal sempre constituiu grave problema para a gente do sertão. Por isso, quando se espalhou a notícia de que, ali, as águas eram minerais, e não precisavam os moradores preocupar-se em dar sal ao gado, foi tal afluência de boiadas das regiões vizinhas, que se tornou necessário marcar dia do mês para cada fazendeiro. A fama da fertilidade •das terras, com ricas pastagens, concorreu também para atrair novos elementos. E, na última década do século XVIII e primeira do século XIX, povoou-se intensamente a região de Araxá.

No Arquivo Público Mineiro existe curioso documento com este título: “Lista dos lavradores que não se avençaram na freguesia de Bambuí, por se verem obrigados pelo administrador de Goiás”.’ a data é de 29 de janeiro de 1794. Da lista, que é longa, consta: Tte. João Ferreira da Veiga, fazenda dos Araxás; Ana Maria Rabelo, fazenda dos Araxás; Manoel Rodrigues de Matos, fazenda dos Araxás (Cód. 480, DF, fls. 22/23, A .P.M.). A 20 de dezembro de 1811, era criado o Julgado de São Domingos do Araxá, comarca da vila Boa de Goiás, com a declaração de que, a 19 de janeiro de 1812, “se principiava a exercitar jurisdição civil e criminal no dito novo Julgado. Passou a ter, desde então, Juiz Ordinário. A propósito da transferência do Triângulo para Minas, lê-se, numa publicação, que o Ouvidor dr. Joaquim Inácio Silveira da Mota apaixonou-se pela mais fascinante beleza local, Ana Jacinta de S. José, que passou à história com a “sugestiva” alcunha de D. Beija (o termo “sugestiva” está na publicação a que nos referimos). Levou-a consigo. 

E em Paracatu do Príncipe, com ela viveu dois anos. Continua a publicação: “Para se livrar das perseguições a que seu ato provocara do rigoroso governo de Goiás, obteve de D. João VI (sic) a volta do Triângulo Mineiro à jurisdição de Minas, cujos governantes lhe eram simpáticos”. Acontece que, em Paracatu, nunca poderia o Ouvidor sofrer qualquer perseguição de autoridades goianas, pois que Paracatu sempre pertenceu a Minas Gerais, “cujos governantes lhe eram simpáticos”. Isto de misturar lenda ou romance com história geralmente traz confusão aos desprevenidos. Surgido o arraial de Araxá, sofriam seus moradores os inconvenientes naturais de um povoado em pleno sertão, longe das autoridades. Aventureiros de toda espécie, os chamados vadios, foram chegando também (Saint Hilaire frisa bem esta circunstância). 

E os homens bons sofriam com a distância de cérea de 140 léguas em que residiam os magistrados, pois dependiam de Goiás. Foi quando surgiu o movimento no sentido de voltarem a pertencer a Minas. Aliás, o arraial de Araxá era habitado quase exclusivamente por gente de Minas. Saint Hilaire, sempre minucioso em seus relatos, tendo passado por Araxá logo após a assinatura do alvará que transferiu a região para Minas, registra o pedido dirigido ao príncipe D. João, assinado pelos moradores de Araxá, como também menciona o atendimento pelo príncipe regente. E o escritor francês, que registrou, com relação a outros lugares, lendas e histórias menos sugestivas, nenhuma referência faz a D. Beija (Viagem às Nascentes do Rio São Francisco, pág., 222). O requerimento dos moradores de Araxá foi remetido, do Rio, para Ouro Preto, com o pedido de informações ao governador. D. Manoel de Portugal e Castro pediu, então, o parecer do Ouvidor da Comarca de São João del Rei, dr. José Bernardo de Figueiredo. 

Além do parecer do Ouvidor, o processo contém outros pareceres, como o dos oficiais da Câmara de Tamanduá e o da Câmara de São João del Rei. Todos esses pareceres constituem um histórico de como a gente de Minas povoou aquele sertão, combateu e destruiu seus quilombos, fundou povoações, e ainda historiam a maneira como as autoridades goianas se apossaram da região (Rev. A .P.M., IX, 875/882). Afinal, em 1816, foi assinado o alvará por D. João, incorporando a Minas toda a região do Triângulo, e onde se pode ler: “… representando-me os povos da Campanha do Araxá, que compreende os dois Julgados e freguesias de S. Domingos e Desemboque, os grandes incômodos que suportavam em viveram sujeitos à Capitania e Comarca de Goiás, cuja capital lhe fica em distância de mais de cento e cinquenta léguas, sendo-lhes muito penosos os recursos de que frequentemente necessitam…” (Cód. 368, fls. 126, A.P.M.). 

Há também, em nosso Arquivo Público Mineiro, documento curioso a respeito: é um abaixo-assinado dos moradores de Araxá, datado de 1820 (quatro anos após o alvará régio), no qual pedem a elevação do Julgado à categoria de vila. Pois bem, nesse documento, dizem textualmente os signatários: “havendo V. Majestade anuído às suas súplicas, determinando pelo Alvará de 4 de abril de 1816, que o referido Julgado de Araxá e o do Desemboque, com os territórios das duas freguesias, ficassem pertencendo à referida comarca da vila de Paracatu…” (Avulsos, A.P.M.). Vê-se claramente que, quatro anos após a anexação do distrito da Farinha Podre a Minas Gerais, os moradores do Araxá reconhecem que D. João havia atendido a suas súplicas. Não resta dúvida de que Minas Gerais tem uma grande dívida para com os moradores de Araxá; foi graças a eles que todo o Triângulo se tornou mineiro. 

A lenda de D. Beija influindo nessa transferência surgiu muito mais tarde. Não se contesta que, em meados do século passado, quando já havia entrado na idade madura, e com os recursos que havia adquirido em suas aventuras, tornou-se figura de certo prestígio local. Viu-se mesmo envolvida, em 1840, numa arruaça mais ou menos séria, motivada por questões políticas. O episódio foi o seguinte: Em 1840, tendo-se ausentado o Juiz, assumira o cargo o juiz municipal, Antônio da Costa Pinto. Deveria, então, presidir as sessões do júri, que estavam marcadas. 

E, nesse júri, deveria ser julgado um réu protegido do Tte. Cel. João José Carneiro de Mendonça. Este, com seus filhos e genros e com apoio do Coronel Chefe da Legião local, Antônio Ribeiro da Silva, do Juiz de Paz em exercício, Manoel Gonçalves Pinheiro, do vigário da paróquia, Pe. Francisco José da Silva, e da própria D. Beija, reuniram cérea de 40 jagunços, dispostos, segundo se dizia, a impedir a realização do júri. Nada mais que uma arruaça, fruto da época. Mas, os boatos mais alarmantes se espalharam com rapidez. Assim, todos os camaristas e o Juiz interino fugiram para o Desemboque. Ali, em sessão permanente, dirigiram diversos apelos ao Presidente da Província, nos quais se falava mesmo em sedição. 

Entre os que apoiaram essa arruaça, figurou o nome de Ana Jacinta de S. José, segundo consta das atas da Câmara. Voltando ao assunto que interrompemos, para esse comentário sobre D. Beija, podemos informar que, tão logo foi a região incorporada a Minas, várias sesmarias foram ali concedidas: em 20 de dezembro de 1816, a Lourenço Antônio Monteiro e a d. Maria Pelágia do Carmo, ambas nas margens do Paranaíba (Cód. 363, fls. 127 e 128, A.P.M.); em 4 de janeiro de 1817, a D. Isabel Damiana Monteira, nas margens do Paranaíba (id., fls. 129); em 15 de janeiro de 1817, a José de Resende Costa, “no lugar do ribeirão do Pissarrão e Estiva” (id., fls. 131); em 16 de janeiro de 1817, a José Fernandes Vilar, nas margens do Paranaíba, abaixo da barra do Pirapetinga” (id. fls. 131v.); e ao sargento-mor José Bento Soares, “no lugar chamado Serrote” (id. fls. 132); em 17 de janeiro de 1817, ao Pe. Antônio José de Melo, nas margens do Paranaíba, no lugar chamado Serrote (id. fls. 134v.); em 21 de janeiro de 1817, a Francelina Carneira de Resende, no ribeirão do Pissarrão e Estiva (id. fls. 135v.); em 26 de julho de 1817, a João Francisco Rodovalho, no distrito da Ermida de Santana (id. fls. 147); em 17 de março de 1818, a Manoel Francisco Rodovalho Môco, no distrito da Ermida de Santana (Cód. 377, fls. 66, A.P.M.); em 23 de janeiro de 1821, a dona Luísa Rosa da Conceição, “no Julgado do Araxá, na paragem chamada Parnaíba com o rio Quebra-Anzol” (Cód. 384, fls. 84, A.P.M.). 

O processo que se formou com o pedido de elevação a vila, a que nos referimos há pouco, é repleto de informações sobre o Julgado. Ficamos sabendo que o florescimento do arraial começou em 1810. Constava o Julgado, em 1820, com 6.000 almas. Até 1812, rendiam os dízimos de Araxá e Desemboque cerca de 600 mil réis (Cr$ 0,60); no triênio 1812-1815, renderam mais de dois contos e quatrocentos mil réis; no de 1816-1819, a renda já era de três contos e duzentos mil réis; e no triênio começado em 1819, só Araxá rendeu quatro contos de réis (Cr$ 4,00). Famílias continuavam imigrando para o arraial; só em 1819, 50 novas famílias fixaram-se em Araxá. Um atestado do vigário, Pe. Francisco José da Silva, esclarece que atestara já a existência de 6.000 almas; e que atualmente (6-agôsto-1820), tem crescido seguramente mil e tantas almas, pelo que tem sete mil e tantas almas”. 

O tabelião atestava a existência de 117 casas, ao passo que Saint Hilaire, em 1819, registrara apenas 75, o que bem demonstra como o arraial crescia. Interessante foi a informação fornecida por Domingos da Silva Oliveira, do Desemboque. Era ali o homem de mais prestígio, desde o afastamento de seu irmão, Cel. José Manoel da Silva Oliveira que, nomeado para importante cargo, em Belém do Pará, fora assassinado em meio à viagem, em Traíras, Goiás, em 1814. Informava Domingos da Silva Oliveira que Araxá realmente tem mais casas que Desemboque; mas ficam fechadas durante a semana, e só se abrem aos domingos e dias festivos. Acrescentava que o Araxá nunca seria conhecido se o Desemboque não tivesse ministrado meios para seu descobrimento. E ainda: “Do Desemboque saíram os primeiros que, com o preço do seu sangue, vidas e fazenda, conquistaram todo aquele sertão do Araxá, até então um covil de feras e habitação do bravo gentio Caiapó”. 

Continuando, manifestava sua opinião de que “é indecente, agora, a filha querer dominar a mãe”. Terminava sugerindo a elevação .a vila dos dois Julgados. O pedido, entretanto, só foi atendido 11 anos depois. No começo de 1830, surgiu um conflito de jurisdição entre a Câmara de Paracatu e o Ouvidor da mesma comarca. Defendia este a tese de que os Julgados de Araxá e Desemboque eram partes da Comarca de Paracatu, mas não do município; não estavam, por isso, subordinados à Câmara. Chegou aquele magistrado a dar provimentos e ordens, em que declarava textualmente que Araxá e Desemboque não deviam obediência à Câmara da vila.. O conflito culminou quando, em Araxá, onde havia um Conselho, o Ouvidor e Corregedor da Comarca exigiu do Procurador Municipal das Rendas, Simão Ferreira, a entrega dos padrões de peso e o cofre do Conselho; diante da recusa do procurador e da recusa também do tesoureiro, em entregar o cofre ou arca do Conselho, o Ouvidor os prendeu, utilizando-se de seis soldados de Goiás. O conflito terminou com a decisão do Conselho da Província, que resolveu que “este conflito de jurisdição fosse decidido a favor da Câmara” (Livro de Correspondência da Câmara de Paracatu). Antes, porém, que se soubesse dessa decisão do Conselho Provincial, o povo de Araxá resolveu proclamar-se vila independente de Paracatu. 

No dia 11 de setembro de 1830, assinado pelo Juiz Ordinária, Bento José de Godóis, e pelo procurador do Conselho, José Carlos da Silva, um edital foi afixado no arraial, convidando clero, nobreza e povo, para uma sessão camarária, pelas 11 horas da manhã, na casa do Conselho, onde 2 eleitores da paróquia, o vigária Francisco José da Silva, e o Juiz dos Órfãos, Jerônimo José da Silva, e os eleitores do Desemboque, formariam um Colégio Eleitoral. 

A reunião tinha por fim declarar Araxá vila independente da de Paracatu. No ofício que foi dirigido à Câmara de Paracatu, assinado pelo fiscal Joaquim Félix Caldeira, com a mesma data de 11 de setembro de 1830, comunicava-se que havia sido feita “a instalação do município separado, sem ordem superior”. Não possuímos elementos seguros para afirmar se o conflito de jurisdição surgido entre o Ouvidor e a Câmara de Paracatu tenha influído no espírito dos araxaenses, para chegarem a declarar Araxá vila independente da de Paracatu. 

De qualquer maneira, o fato é original. A Câmara de Paracatu, em sessão extraordinária de 29 de novembro do mesmo ano, dirigiu-se aos membros do Conselho Geral da Província, comunicando o procedimento “absurdo, além de ser refratário à lei e atentório da autoridade e resolução do Exmo. Conselho” (Livro de Correspondência da Câmara de Paracatu) . Desta vez, o governo preferiu acatar uma situação de fato. Por ato de 31 de outubro de 1831, da Regência, era o arraial de Araxá elevado a vila e criado o município. Uma prova de que Araxá continuou a atrair elementos de outros pontos temos na relação de seus voluntários da Pátria. Nessa relação, vamos encontrar moços de Dores do Indaiá, Bagagem, Uberaba, Formiga, Pitangui, Bambuí, São Francisco das Chagas, S. Pedro da Uberabinha, Baependi, Sacramento, Santo Antônio dos Tiros, Patrocínio, Arcos, Catalão, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia; mas a maioria era nascida mesmo em Araxá. Alistaram-se 102 voluntários. 

Mas, no dia 29 de abril de 1865, com destino a Uberaba, seguiram apenas 97, sob o comando do Alferes José Porfírio Alvares Machado. Araxá brilhou na campanha contra Lopes. Fundou-se na vila a “Sociedade Auxiliadora dos Voluntários” que, além de outras despesas, gratificou cada voluntário com a importância de quatrocentos mil réis (Cr$ 0,40). Foi o município de Minas que melhor gratificou seus voluntários, pois, na maioria, cada voluntário recebia cinquenta mil réis; em alguns, cem. Uma rica bandeira nacional foi oferecida solenemente à Companhia de Voluntários. 

E a turma seguiu, cheia de entusiasmo e vibração, segundo informava o comandante. No 39 pouso, que foi na fazenda de d. Ana Tereza da Rocha, esta senhora recusou-se a receber pagamento pela pousada, declarando textualmente que “não era possível receber semelhante dinheiro de homens que voluntariamente vão defender a honra do Brasil”. No dia 3 de maio, a Companhia de Voluntários de Araxá chegou ao 4° pouso: era a fazenda de S. Manoel, de propriedade de D. Bárbara. Meia hora depois da chegada, apareceu o grupo de voluntários de Sacramento, em número de 12, acompanhados de pessoas gradas daquele arraial. O encontro foi entusiástico e barulhento, com vivas, gritos etc. Chegaram a Uberaba a 5 de maio; aí aguardaram a chegada d 1 Wigda Mineira, que partira de Ouro Preto, a 10 de maio. Incorporados aos voluntários mineiros, sob o comando de José Antônio da Fonseca Galvão, marcharam para Mato Grosso; com a Brigada Mineira, invadiram o Paraguai e tomaram parte na grande epopeia da Retirada da Laguna. São Domingos o Araxá foi elevado à categoria de cidade, pela lei n9 1.259, de 19 de dezembro de 1865, com a mesma denominação. Na divisão administrativa de 1911, já figura a cidade com o nome de Araxá. 

Com relação ao topônimo Araxá, são variadas as opiniões; para Lafaiete de Toledo, o vocábulo Araxá significa alto chapadão ou planalto. Couto de Magalhães manifesta a mesma opinião, quando escreve “plateau ou araxá central do Brasil”. Ensinava Couto de Magalhães que o termo se compõe de “ara” = dia, tempo, luz e, por extensão, o sol; e “echá”, palavra avaneenga que quer dizer “avistar, ver, enxergar” (O Selvagem). Cônego Pennafort explica assim a etimologia: “a” — partícula aumentativa; “rã” — altos e baixos; “xá” — campos (campos elevados, planalto) (in Rev. A.P.M., XX, 219). Francisco Freire Alemão assim traduz o vocábulo: ara — luz, tempo, dia; xá — interjeição de espanto; araxá — bom tempo ou Buenos Aires (Rev. I.H.G.B., XLV, 353). Para Teodoro Sampaio, o topônimo quer dizer “por vista do mundo, alusão ao fato de ser um lugar donde se pode ver o mundo ou os largos horizontes dele” (Vocabulário Geográfico Brasileiro).

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