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Bom Despacho

Os primeiros moradores que se fixaram no vale do Picão, seguiram a norma adotada pela maioria dos povoadores do sertão: estabelecimento de fazendas de gado. Os mais antigos povoadores de que nos falam os documentos foram Luís Ribeiro da Silva e Manoel Pereira Couto. O primeiro pode ser considerado o verdadeiro fundador do arraial, pois a êle se deve a iniciativa da primeira capela dedicada à Senhora do Bom Despacho, “na paragem do Picão, junto ao rio S. Francisco”, conforme provisão episcopal de 16 de novembro de 1771. 

Entretanto, Cônego Trindade encontrou a doação do patrimônio para a dita capela, com data de 1767 (provavelmente terá existido outra, fato não raro; pode também a doação do patrimônio ter-se antecipado à ereção da capela). Mas Luís Ribeiro da Silva acabou vendendo sua sesmaria a João Gonçalves Paredes que, ao requerer o diploma da referida sesmaria, fazia referência aos vizinhos: Francisco Dias dos Santos, Nicolau Lopes e Domingos Luís (1772, sesmaria de três léguas, nas cabeceiras do Picão —Cód. 172, fls. 139, A.P.M.). 

A sesmaria de José Fernandes Coura menciona como vizinhos de suas terras os herdeiros de Manoel Pereira Couto (1772, entre o Picão, ribeirão do Machado e o São Francisco, Cód. 172, fls. 155, A.P.M.). E a de Francisco Dias dos Santos, arrematada a Antônio de Souza Almundo, relaciona, como vizinhos, Pe. José Gomes, Jacinto José e Leandro de tal (sic) (1772, sesmaria de 3 léguas, por ser sertão de criar gados, Cód. 172, fls. 138v., A.P.M.). O Pe. José Gomes da Silva estabeleceu-se antes, pois sua sesmaria foi concedida em 1760 (Cód. 129, fls. 94). Das poucas sesmarias concedidas ali, pode-se deduzir ter sido 1772 o ano de mais intenso povoamento, embora a maioria dos povoadores não se preocupasse em legalizar a posse das terras. 

No final do século XVIII, a região devia estar bem povoada, pois o capitão-mor de Pitangui, Francisco José da Silva Capanema, propôs ao governo da Capitania, em 1799, a divisão do distrito de Picão em dois, sugerindo, como divisa, os Pintores, rumo ao ribeirão das Furnas. Convém lembrar que, até a década do século XIX, não havia ato criando distrito; desde que surgia um povoado qualquer, a criação da Companhia de Ordenanças oficializava a existência do distrito. E já havia, então, uma Companhia de Ordenanças no distrito da Senhora do Bom Despacho do Picão.

A sugestão do capitão-mor de Pitangui só foi posta em prática em 1864, pela lei provincial n° 1.187, de 21 de julho, que elevou a distrito, com o nome de Picão, a parte da freguesia de Bom Despacho que ficava na margem direita do rio daquele nome. Segundo um mapa organizado em 1813, referente ao termo da vila de Pitangui, tinha o curato de Bom Despacho a seguinte povoação: Livres: 559 brancos, 41 pretos, 492 mulatos; escravos: 416 pretos, 24 mulatos. Total: 1.092 livres e 440 cativos. A paróquia foi oficialmente criada pelo decreto da Regência de 14 de julho de 1832. O mesmo ato que elevou legalmente Bom Despacho à condição de freguesia, fixou-lhe, como filiais, os curatos de Abadia, Monjolos e Saúde. Segundo informa o Cônego Trindade, teve a paróquia instituição canônica a 20 de agosto de 1834 e, como primeiro vigário, o Pe. Francisco de Paula Gonçalves. 

A provisão do Pe. Francisco de Paula Gonçalves, como vigário encomendado, é de 16 de agôsto de 1834 (Registro de Provisões e Ordens Régias, Arquivo Eclesiástico de Mariana). Entretanto, no Livro de Visitas Pastorais de Dom Frei José da Santíssima Trindade (Arquivo Eclesiástico de Mariana), consta o seguinte registro referente a Bom Despacho, feito por ocasião da visita pastoral a Pitangui, em 1824: “era seu capelão o Pe. Miguel Dias Maciel que ora passou a pároco encomendado na freguesia”. Em seguida, o registro menciona o pedido dos moradores de Bom Despacho dirigido a S. Majestade, no ano de 1824, no sentido de ser criada a paróquia desmembrada da de Pitangui; e depois de outras considerações sobre o grande número de almas da nova paróquia, continua: “Foi confirmado por S. Exa. Revma. a favor dos pretendentes em 10 de setembro de 1824 pelo Tribunal de Justiça”. 

Assim, parece não haver dúvida quanto à criação da paróquia, em 1824, sendo os atos posteriores, inclusive o decreto da Regência, de “confirmação”, o que era comum. São freqüentes, em Minas, os casos de instituição de paróquia por provisão episcopal e, posteriormente, o diploma legal do poder civil. Como exemplo, podemos citar a paróquia de Bambuí, que foi instituída por provisão episcopal de 1768; e a lei só veio a criar a paróquia em 1816. 

Bom Despacho, como aliás tôda a zona vizinha, tomou parte ativa na Revolução Liberal de 1842. Um grupo, sob o comando do Cel. Elias Pinto da Fonseca, dirigia-se para Dores do Indaiá, onde se concentravam elementos de Tiros, de Quartel Geral e outras localidades vizinhas. O plano era marchar todos para Pitangui e tomar a vila. Mas o Cel. Elias foi surpreendido em caminho pela tropa bem armada do Cel. Antônio de Morais Pessoa; foi prêso, como presos foram também todos os líderes liberais de Dores do Indaiá. 

O vigário de Bom Despacho, Pe. Damaso Antônio Cardoso de Menezes, era um dos esteios dos conservadores. Em 1872, um abaixo-assinado, com grande número de assinaturas, foi dirigido à Assembléia provincial, pedindo a criação da vila. Assinavam-no Pe. Modesto de Souza Landim, vigário; Pe. Alexandre Cidrão de Siqueira Tôrres, coadjutor; o boticário João Rodrigues de Freitas Mourão, o Juiz de Paz Quintiliano de Souza Pinto, comerciante Felisberto Francisco Soares, professor José Fernandes Alves Corgosinho, fazendeiro Clemente da Costa Gontijo, negociante Francisco Marques Gontijo, fazendeiro José Fernandes Corgosinho, vários Lopes Cançado, alguns Costa Gontijo, diversos Marques Gontijo, muitos Oliveira Braga etc. E realmente foi apresentado o projeto nº 130, no mesmo ano, elevando a paróquia de Bom Despacho à categoria de vila. Mas não conseguiu andamento. O município só foi criado em 1911, com a lei nº 556, de 30 de agosto, que o desmembrou de Santo Antônio do Monte. A vila foi solenemente instalada a 19 de junho de 1912. 

O município de Bom Despacho, situado no Alto São Francisco, é constituído de dois distritos: Bom Despacho e Engenho do Ribeiro.

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