A região do antigo rio das Abelhas foi infestada de quilombos e índios Caiapós que, durante muito tempo, dificultaram os exploradores. De uma dessas bandeiras exploradoras, escapou Agostinho Nunes de Abreu, que foi ter a Pitangui. Só com a expedição de Bartolomeu Bueno do Prado, em 1759, expedição organizada em São João Del Rei pelo governador José Antônio Freire de Andrade, foram aniquilados os quilombos e dizimados os quilombolas.
Só então, animados com as notícias divulgadas por Agostinho Nunes de Abreu, em Pitangui e em Tamanduá, organizaram-se expedições que deram realmente origem à povoação do Desemboque.
De Pitangui, partiram Tomás Antônio Calaça e, depois, Manoel José Torres e Antônio da Silva Cordeiro. Do Tamanduá saíram o sargento-mor Manoel Alves Gondim, o guarda-mor Manoel Rodrigues Gondim, tendo por guia o referido Agostinho Nunes de Abreu. Encontraram ouro em abundância e deram início ao arraial. O vigário de Tamanduá, Pe. Gaspar Alves Gondim, ia periodicamente administrar-lhes o pasto espiritual. Os primitivos fundadores do arraial ali permaneceram até 1763, quando grandes transformações se operaram. Lutas e disputas próprias dos centros de mineração tiveram ali consequências as mais funestas. O Pe. Marcos Freire de Carvalho conseguiu de Dom Frei Manoel da Cruz, bispo de Mariana, provisão para exercer o ministério no Sul de Minas, zona do Jacuí, onde tomou conhecimento da existência do novo arraial do Desemboque, que surgia tão promissoramente. Quis passar-se para o Novo arraial, mas sua provisão estava finda. Pela fama que grangeara, de traficante e contrabandista, tinha certeza de que não obteria a renovação da mesma. Dirigiu-se, a Goiás, a fim de oferecer ao governo daquela capitania o novo arraial. Mas não encontrou autoridade eclesiástica alguma; a cúria não estava funcionando. Partiu para São Paulo, onde foi mais feliz; Dom Antônio da Madre de Deus aceitou seu oferecimento e nomeou-o vigário do Desemboque, com jurisdição no Sul de Minas. O Pe. Dr. Marcos Freire de Carvalho tinha como coadjutor o Pe. Félix José Soares da Silva, um criminoso vulgar, contrabandista famoso que, por duas vezes, estivera recolhido ao aljube pelo juízo eclesiástico, de que se livrara pelo recurso à coroa. O Pe. Soares dirigiu-se a Goiás e, às autoridades ofereceu o novo descoberto do Desemboque. Foi quando soldados de Goiás apareceram ali, expulsaram as autoridades mineiras, assenhorearam-se do arraial e adjacências, que ficaram anexados a Goiás. Com data de 28 de fevereiro de 1763, o bispo de Mariana redigia seu manifesto contra a usurpação do Desemboque, Jacuí, este para a diocese de São Paulo. Em 1766, estava o Desemboque sob jurisdição goiana. Ao se fixarem os limites do Julgado do Desemboque, em auto lavrado a 7 de outubro de 1811, registrou-se um documento comprobatório de que o Julgado do Desemboque “já exercitava suas funções no ano de 1766”. Realmente, foi nessa data que Goiás criou aquele Julgado. Em 1764, ao ser publicado o bando sobre a derrama de 13 arrobas de ouro (13 arrobas, 14 libras, 1 marco e 3 onças) que faltaram para o total de 100 arrobas, foram muitos os moradores do Tamanduá que se enfumaram pelo sertão e foram dar a Desemboque, aumentando consideravelmente sua (população (Rev. A.P.M., IX, 669). De São Pedro de Alcântara do Jacuí iam constantemente carregações de mantimentos e gêneros diversos, que eram vendidos com facilidade no novo e rico arraial. Comentava-se a “Picada do Desemboque”, o que prova que por lá não passava o caminho para Goiás. Aliás, em “Documentos Interessantes”, vol. 11, com data de 1789, há interessante bando do governador José de Lorena, de São Paulo, proibindo a utilização da “Picada do Desemboque”, antes utilizada apenas pelos carregações de gêneros, pelos viandantes que, desviando-se do registro do rio das Velhas, iam ter ao Desemboque, ali forjavam guias falsas e seguiam para Goiás. Isto talvez explique o topônimo Desemboque. A picada inicialmente desembocava no arraial e ali terminava. Não ia além. No Cód. 156, onde se registram as sesmarias concedidas de 1767 a 1769, várias se encontram com esta indicação: “picada que vai para o Desemboque” (pág. 89v., 90v. etc.). Pizarro confessa que não encontrou notícia alguma da paróquia de N. S9 do Desterro do Rio das Velhas, anterior a 1768 (Memórias Históricas do Rio de Janeiro, 59, 133). Sabemos que, antes de 1768, ali exerceu suas atividades apostólicas o franciscano Frei José (Rev. A.P.M., I, 737). Em 1816, atendendo a pedido dos moradores do Julgado de São Domingos do Araxá, D. João transferiu toda a região para Minas. Em 1836, a lei n9 28, de 23 de fevereiro, suprimiu o Julgado do Desemboque, incorporando seu território ao de Araxá. A lei n9 429, de 19 de outubro de 1848, suprimiu a freguesia. No ano seguinte, foi restaurada pela lei n9 452, de 20 de outubro de 1849. Em 1850, foi promulgada a lei n9 472, de 31 de maio, que determinou o seguinte: “Art. 19 — A sede da freguesia do Desemboque fica sendo desde já a Matriz de N. Sra. do Desterro”. Art. 29 — Fica elevada à categoria de vila a paróquia do Desemboque”. Poucos anos depois, novamente perdeu as regalias de paróquia: a lei n9 1.262, de 19 de dezembro de 1865, transferiu a sede da paróquia para Espírito Santo da Forquilha. E o pior é que a mesma lei suprimiu a vila, ficando extinto o município do Desemboque. Em 1870, passou a ter novamente as regalias de paróquia; a lei n9 1.663, de 16 de setembro de 1870, transferiu a sede da freguesia do Espírito Santo da Forquilha para o Desemboque. Como distrito do município de Sacramento, teve a denominação de Nossa Senhora do Desterro do Desemboque reduzida para Desemboque, pela lei n9 843, de 7 de setembro de 1923. Desemboque exerceu importante papel, como centro de expansão territorial; dali é que partiam expedições que tornaram conhecida toda a extensão da Farinha Podre, e deram lugar ao nascimento de várias povoações, hoje cidades importantes. O nome que se salienta nessa fase de expansão nascida no Desemboque, é o do Pe. Hermógenes Cassimiro de Araújo Bruonswik, natural de Conceição do Mato Dentro, o vulto mais importante na história do Desemboque, e cujo túmulo se encontra no adro da matriz do lugar. Desemboque é hoje distrito do município do Sacramento. Outras fontes, além das já mencionadas: Côn. Raimundo Trindade, Arquidiocese de Mariana, 19 vol., Códices do A.P.M., Documentos Interessantes, Rev. A.P.M.,II.
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