Cônego Trindade, sob o título “Oliveira”, registra o pedido de José de Souza Pereira, para levantar uma capela dedicada a N. Sá Mãe dos Homens e menciona a provisão concedida para êsse fim, de 30 de junho de 1828.
Isto levou um historiador a supor tivesse sido esta a primitiva capela de Oliveira, o que não representa a verdade. Dom Frei José da Santíssima Trindade estêve por duas vêzes no arraial de Oliveira. Por ocasião da primeira visita, em 1825, registrou: “Visitamos pessoalmente a capela curada de N. Sa da Oliveira, no dia 2 de julho (1825). Louvamos o muito zêlo dos que começaram o edifício do Santuário, mas não podemos deixar de estranhar gravemente a frouxidão… Portanto, ordenamos gravemente ao capelão e a seus aplicados promovam as obras da capela com a maior brevidade e em especial a sacristia (Livro de Visitas Pastorais de Dom Frei José da Santíssima Trindade, Arquivo Eclesiástico de Mariana). Não há a menor referência à capela de N. Sá Mãe dos Homens, que é posterior a essa data; esta referência vai ocorrer, por ocasião da segunda visita, poucos anos depois. Eis o que o mesmo Bispo deixou registrado em sua segunda visita: A capela de N. Sa da Oliveira “é tôda de pedra, com duas tôrres e os portais e o presbitério, de pedra mármore e as tôrres por acabar… No mesmo (arraial), fazendo frente à capela, tem a de N. Sa do Rosário acabada de próximo e, perto da subida, tem uma ermida do Senhor dos Passos e, a um lado, em alguma distância, FABRICA-SE OUTRA ERMIDA, PARA COLOCAREM A SE-NHORA MÃE DO SHOMENS” (Livros de Visitas Pastorais, acima citado). A capela de Nossa Senhora da Oliveira, como mostraremos a seguir, deve ter surgido entre 1754 e 1758.
O primeiro morador de que temos notícia, ali, é Domingos Vieira da Mota, que residia no Passa-Tempo, e que obteve sesmaria, em 1754, “na paragem do Campo Grande, picada de Goiás”. Ainda não havia a capela que, entretanto, como veremos adiante, existia em 1758. Domingos Vieira da Mota cedeu sua sesmaria a Antônio de Oliveira Jorge. Esta sesmaria, não confirmada, veio a ser arrematada, em praça pública, na vila de São José, por volta de 1758, por André Diniz Linhares. este, ao pedir o diploma da sesmaria, em 1758, já faz referência à capela de N. Sa da Oliveira, na paragem do Campo Grande. Foi-lhe concedida em 1760. Já ali encontrou moradores, entre eles, Manoel Martins Gomes, que vendeu depois sua sesmaria a Ricardo Pereira Leitão e Mateus. Ferreira, e estes, ao Pe. Manoel de Oliveira Silva e este, por sua vez, a José Friz. Martins. Outros se foram estabelecendo, sempre citando a Aplicação da capela de N. Sá da Oliveira, como Josefa Maria de Sá, que obteve sesmaria em 1765; Dr. João Antônio da Silva Leão, de São João del Rei, em 1768; Antônio Ribeiro de Morais Castro, em 1768; Antônio Friz. Martins, em 1771; etc. Muitos outros se estabeleciam, sem a preocupação de legalizar a posse de suas terras.
A menção da “Picada de Goiás” e de “Campo Grande”, expressões usadas nas primeiras sesmarias, levou alguns autores a outro equívoco: o de supor que estes tenham sido primitivos nomes de Oliveira. Ora, Picada de Goiás era a designação escolhida para todas as sesmarias situadas nas vizinhanças daquele caminho, desde São João del Rei até Paracatu; da mesma forma, Campo Grande era expressão designativa de toda a vasta região que ia de São João del Rei até Goiás, ou melhor, até o Alto Paranaíba. Salvo engano, foi José Joaquim da Silva o primeiro a cometer o equívoco, escrevendo: “A povoação da Oliveira denominada antigamente Picada de Goiás…” (Tratado de Geografia Descritiva Especial da Província de Minas Gerais, 1878).
Origem do topônimo: Quanto à origem do topônimo, não nos esqueçamos de que os portugueses, penetrando pelo sertão, iam plantando ermidas, capelas ou simples oratórios, com os oragos de sua devoção trazida de Portugal. Assim, N. Sra da Oliveira, como N. Sra da Boa Viagem, do Bom Despacho, do Patrocínio, da Madre de Deus, da Misericórdia etc. eram devoções comuns entre os portugueses. Veja-se, por exemplo, em “Notícias Históricas de Portugal e do Brasil” (Coimbra, 1961), as notas referentes aos movimentos de navios, no século XVIII; ver-se-ão aqueles nomes acima mencionados, e outros como N. da Glória, da Penha de França, da Conceição, do Nazaré, das Necessidades etc.
Com relação a N. da Oliveira, incluída entre as mais comuns, era a padroeira dos oficiais confeiteiros, carpinteiros de carruagens e de carros em geral e dos picheleiros, os quais constituiam, em Portugal, um dos onze ofícios embandeirados, isto é, com direito a bandeira (Rev. I.H.G.B., 86). Augusto de Lima Júnior, em “História de Nossa Senhora em Minas Gerais”, depois de mostrar a antiguidade da devoção a N. SQ. da Oliveira, em Portugal, escreve: “Traziam os povoadores de Minas, nos primeiros tempos do desbravamento, pequenas imagens dos padroeiros ou oragos de suas aldeias natais, diante das quais haviam começado a levantar suas almas e mãos para o céu”. E, qui, nos sertões onde se fixavam, construiam sua capela, dedicando-a a N. Senhora ou ao santo de sua devoção. O mesmo autor cita, a propósito, o arraial de N. Sra da Oliveira do Itambé do Mato Dentro, de N. Sra da Oliveira do Piranga (1758), além daquele que deu origem à atual cidade de Oliveira. Poderia ter o Mestre acrescentado a capela de N. da Oliveira de Borda do Campo (1753) e a da freguesia do Sumidouro, que acabou abandonada, e cuja imagem se encontra hoje no Seminário de S. José, de Mariana. A capela e o capelão: Corria o ano de 1780. O Pe. Miguel Ribeiro da Silva que, havia alguns anos, vinha servindo de capelão, administrando o pasto espiritual a contento a todos os aplicados, pelo seu zelo e pela sua dedicação, convocou os moradores para a construção de nova e maior capela, dado o estado lastimável da primitiva.
A construção foi iniciada com entusiasmo geral e muito boa vontade. Pouco depois, porém, por imposição do Mestre de Campo Inácio Correia Pamplona, foi indicado pelo vigário de São José outro capelão, o Pe. Manoel Pacheco Lopes que, segundo as reclamações constantes dirigidas ao mesmo vigário de São José, não primava pela virtude. Tanto pediram os aplicados, tanto imploraram, que conseguiram o afastamento do Pe. Pacheco, em 1785. Voltou, como capelão, o Pe. Miguel, e o povo, entusiasmado, recomeçou as obras da capela. Mas, em 1788, alarmaram-se os aplicados de N. SQ. da Oliveira, com as notícias que corriam: o vigário de São José, Pe. Carlos Correia de Toledo, preparava sua viagem a Lisboa e, segundo constava, iria deixar como seu substituto, na vila de São José, o Pe. Bonifácio da Silva Toledo, parente do “depravado” Pe. Pacheco que, certamente, iria voltar a ser o capelão de N. S4 da Oliveira. Um longo abaixo-assinado, com 92 assinaturas, foi dirigido ao sr. Bispo de Mariana, pedindo-lhe evitasse aquela calamidade para os aplicados. O documento constitui verdadeira catilinária contra o Pe. Pacheco; e nele se faz referência a uma devassa aberta justamente pelo procedimento indigno daquela capelão.
O receio dos moradores desapareceu, pois, em vez de viajar para Lisboa, foi o Pe. Toledo prêso como inconfidente. A igreja de N. Sa da Oliveira só foi concluída anos depois, por um arquiteto de renome que, em seguida, foi chamado a construir a igreja de N. S4. da Boa Morte, de Barbacena. De arraial a cidade: O arraial cresceu e, em 1798, era criada ali uma companhia de Ordenanças do Regimento de Pamplona. Em 1802, o arraial é mencionado entre os importantes que se subordinavam à vila de São José. Por ali passou, em 1823, o General Cunha Matos, na sua viagem a Goiás; gostou do arraial que classificou de aprazível.
Na sua memória, menciona Cunha Matos, além da igreja dedicada a N. Sá da Oliveira, outra numa baixada, no princípio do arraial, dedicada ao Senhor dos Passos; e refere-se ainda a outra, em construção na época, em honra de N. Sra do Rosário. Não faz qualquer referência à igreja de N. Sra Mãe dos Homens, que foi iniciada mais tarde. O arraial foi elevado à categoria de freguesia, por decreto da Regência, de 14 de julho de 1832, paróquia que foi instituída canonicamente a 12 de julho do ano seguinte. Cônego Trindade menciona como o primeiro vigário encomendado o Pe. Joaquim Luís Campos; entretanto, no Registro de Provisões, Ordens Régias, fl. 125 v. (Arquivo Eclesiástico de Mariana), consta, com data de 4 de junho de 1834, a provisão de vigário encomendado “da nova freguesia de N. S3 da Oliveira, desmembrada da de São José, a favor do Pe. José Francisco Lopes. Pouco depois, a lei provincial nº 134, de 16 de março de 1839, elevava a freguesia a vila, com a denominação de Nossa Senhora da Oliveira, criando-se o município. O nôvo município teve instalação solene, que se verificou a 9 de julho de 1840. E foi a vila elevada à categoria de cidade, com a lei provincial nº 1.102, de 19 de setembro de 1861.
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