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Paracatu

A região de Paracatu foi sendo povoada inicialmente por elementos vindos da Bahia, via S. Romão. Temos notícia, no primeiro quartel do século XVIII, de um morador nas cabeceiras do Paracatu, vindo da cidade do Salvador: Tomás do Lago Monteiro que, alegando que já servira de Alferes do Têrço de Auxiliares da “cidade da Bahia”, pediu e obteve, com data de 26 de janeiro de 1722, a patente de Coronel do Paracatu, a fim de, com maior autoridade, combater o gentio bravo e, desta forma, facilitar as expedições e a procura do ouro (Cód. 21, fls. 66/66v. A.P.M.).

da cidade do Salvador: Tomás do Lago Monteiro que, alegando que já servira de Alferes do Terço de Auxiliares da “cidade da Bahia”, pediu e obteve, com data de 26 de janeiro de 1722, a patente de Coronel do Paracatu, a fim de, com maior autoridade, combater o gentio bravo e, desta forma, facilitar as expedições e a procura do ouro (Cód. 21, fls. 66/66v. A.P.M.). 

Nas cabeceiras do Paracatu, obteve sesmaria, em 1727, Francisco Nunes dos Santos, morador no rio S. Francisco da parte da Bahia; alegara que havia quatro anos havia descoberto e povoado o sítio do Pico com criação de gado vacum (Rev. A.P.M., IX, 423). Inácio de Oliveira, declarando que se estabelecera em 1719, em um sítio de criar gado vacum e cavalar, chamado Barra do Rio Preto, obteve sesmaria em 1728 (Rev. A.P.M., IX, 430). No rio Paracatu, João da Costa Ferreira obteve sesmaria em 1728 (Rev. A.P.M., IX, 444). No mesmo ano, José dos Santos teve seu diploma de sesmaria (Rev. A.P.M., IX, 440). 

Em 1736, nas Gerais do S. Francisco, parte de Pernambuco, tinha sua sesmaria Bernardo Domingues que declarara ter encontrado, ao chegar, “sete taperas ou povoações do gentio bravo” (Cód. 42, fls. 38v.). Pe. Francisco Palhano, estabelecido nas cabeceiras do Paracatu, caminho novo de Pitangui, para os Goiases, teve sua sesmaria doada em 1737 (Cód. 42, fls. 96). José Vieira de Melo, André Martins Neto, na barra do rio Sono no Paracatu, descobriram, povoaram um sítio, com “muita quantidade de gados vacum e cavalar” e tiveram sua sesmaria em 1741 (Cód. 80, fls. 28). 

Outras tantas sesmarias eram concedidas na região do Urucuia. Com relação ao início da formação do arraial, não estão acordes os historiadores; Afonso Arinos acha deva ter-se iniciado entre 1736 e 1744. Alírio Carneiro (O Centenário de Paracatu) assegura que a primitiva igreja do arraial nascente, a de Santa Ana, fôra edificada em 1730 (in Paracatu perante a História, Oliveira Melo, pág. 39). 

Já este autor supõe ter-se iniciado o arraial bem antes de 1730. Não há dúvida que, em 1736, quatro diferentes caminhos para Goiás passaram a fazer junção em Paracatu: a Picada de Goiás, cuja construção foi permitida por despacho do governador Gomes Freire de Andrade, de 8 de maio de 1736; a de Pitangui a Goiás, também autorizada em 1736 ao requerente Domingos de Brito ‘e seus sócios; a que passava por S. Romão, onde desembocavam caminhos de Minas, da Bahia e de Pernambuco; e o caminho que transpunha o S. Francisco na passagem do Espírito Santo, nas proximidades da barra do rio Abaeté. 

A Picada de Goiás e a que passava por S. Romão eram as mais freqüentadas; sobre esta última há o seguinte documento de 1736: “este caminho há de ser o geral e mais freqüentado para os Goiases” — (Rev. A.P.M., XVI, 375). E dêste mesmo ano d.e 1736, há uma sugestão de Simão da Cunha Pereira ao governador da Ca-pitania; era tão freqüentada que convinha pôr contrato (Cód. 54, fls. 75v.). 

Ora, se êstes quatro caminhos diferentes iam juntar-se em Paracatu, de onde apenas um continuava para Goiás, é bem possível que aí nesse entrocamento houvesse, então, casas de hospedagem, e, prova-velmente algum povoado com recursos para os viajantes. Que o arraial é anterior ao manifesto das minas de ouro, não há dúvida. Augusto de Lima Júnior, publicando a relação dos povoados que, em 1738, possuiam Companhias de Ordenança, cita o de Paracatu, então no têrmo do Sêrro Frio (A Capitania de Minas Gerais, 3P edição, pág. 63).

Oliveira Melo transcreve um documento referente ao sacristão da capela de N. SP do Rosário dos Pretos “dêste arraial” e “morador no largo da mesma capela”, eleito em 1744 (Oliveira Melo, ob. cit., pág. 39). Estêve em minhas mãos o livro da Irmandade de N. SP- do Rosário dos Prêtos de Paracatu, cuja igreja foi levantada no ano de 1744. E, nesse ano, tornaram-se conhecidas as minas do Paracatu. Quanto tempo, antes, estiveram os mineiros aí se locupletando? Xavier da Veiga, nas Efemérides, registra: “24 de junho de 1744: O governador Gomes Freire de Andrade ordena que as minas de ouro, no princípio deste ano descobertas em Paracatu pelo guarda-mor José Rodrigues Fróis, sejam distribuídas, pelos respectivos exploradores”. E Oliveira Melo comenta: “A data oficial das descobertas das minas do Paracatu é 24 de junho de 1744” (ob. cit., pág. 45). 

Olímpio Gonzaga menciona a mesma data -24 de junho de 1744 – como a da denúncia das minas feita por José Rodrigues Fróis ao governador (Memória Histórica de Paracatu). Entretanto, em carta de 9 de maio de 1744, isto é, no mês anterior, em vista “dos avisos que tenho de que nas cabeceiras do Paracatu se tem descoberto ouro em grande conta, tanto pela parte donde corre o dito rio, como pela do caminho de São João del Rei a Goiás e que nos ditos distritos se tem juntado uma grande porção de povo”, determinava o governador aos capitães-maiores João Jorge Rangel e José Pereira Brazão. se dirigissem com escolta dos dragões aos sítios de São Luís e N. dos Remédios, com o fim de conter o povo e fazer os guarda-mores repartirem as terras na forma das ordens de S. Majestade” (Cód. 69, fls. 44). 

Esse João Jorge Rangel era grande conhecedor da região, pois estivera no Paracatu em 1736, quando se vira ameaçado por desordeiros do rio S. Francisco. (Cód. 54, fls. 46). Comunicando o descobrimento a El Rei, Gomes Freire de Andrade informava que, em Paracatu “se juntaram de todas as comarcas das Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Bahia e Rio, mais de dez mil almas…” (Cód. 45, fls. 67). São Paulo pretendeu que as minas de Paracatu ficassem sob seu governo; e a 20 de agosto de 1744, escreveu o governador a D. João, manifestando sua pretensão (Cód. 45, fls. 38v.). 

Os dois vultos mais importantes, no início da mineração em Paracatu foram Felisberto Caldeira Brant e José Rodrigues Fróis. Discutem os historiadores qual teria chegado primeiro, qual primeiro teria saído, pormenor que não nos interessa. E se houve, a princípio, alguma rivalidade entre os dois chefes sertanistas, a verdade é que viveram em boa paz, sobretudo depois do casamento de Joaquim Caldeira Brant com uma irmã de Rodrigues Fróis. 

Geralmente se mencionam três irmãos Caldeira Brant: entretanto, no livro da Irmandade de Santa Ana, no ano de 1746, figuram os nomes de José Rodrigues Fróis, como Juiz da Irmandade; como procurador, Felisberto Caldeira Brant; como irmãos da confraria, Conrado Caldeira Brant, Joaquim Caldeira Brant e Sebastião Caldeira Brant e um Pedro Rodrigues Fróis. Este documento (do Arquivo da Paróquia de Paracatu) mostra que os Rodrigues Fróis e os Caldeira Brant viviam em boa harmonia, na mesma Irmandade; e ainda mostra a ausência de razão dos que afirmam a retirada de qualquer deles antes dessa data. 

Sesmarias continuaram sendo concedidas: em 1745, a Pedro Gomes Santiago (C. 80, fls. 162); Manoel Martins Viana (C. 80, fis. 163); Clara Correia de Carvalho (C. 80, fls. 145); Antônio Rodrigues de Paiva (C. 80, fls. 166); Pe. João Cardoso (fazenda Canabrava) (C. 80, fl. 167); José Dionísio de- Almeida (C. 80, fls. 178); José Pires de Almeida (C. 80, fls. 178v.); José Manoel de Morais (C. 80, fls. 188); Manoel Coelho Dias (C. 80, fls. 156); Pe. Manoel Barbosa Leal (C. 85, fls. 42v.); Antônio de Morais Tavira e Dom Brás da Cunha (C. 85, fls. 39). 

Em quase todas se faz menção à criação de gado. Em 1746: João Duarte de Pinho (C. 85, fis. 154). Em 1747: Antônio Correia de Carvalho (C. 90, fls. 51v.); Antônio Dassa Castelo Branco e o ajudante Manoel Ferreira de Almeida (C. 90, fls. 20). Em 1748: Francisco Machado Silva (C. 90, fls. 99v.); Antônio Carvalho da Cunha (C. 90, fls. 105); Sargento-mor Bento José (C. 90, fl. 114); Antônio Lourenço Mundim (C. 90, fl. 125). Em 1749: Antônio Mendes e Francisco Dias (C. 90, fl. 200); capitão Manoel da Silva Fonseca (C. 90, fl. 201); Lázaro da Costa (C. 90, fl. 233v.). A lista é enorme; desejamos mencionar apenas mais duas sesmarias: a do Pe. Antônio Mendes Santiago, de 1761 (C. 129, fl. 117v.) e a de João de Melo Franco, de 1762 (C. 129, fl. 137v.).

O arraial de S. Luís e Santana das Minas de Paracatu crescia sempre e, na maioria, ao que parece, eram naturais do reino seus moradores. Pelo menos é enorme a relação dos testamentos e casamentos de filhos do reino, nos anos que se seguem. Apenas alguns exemplos: Antônio Costa Ribeiro, natural da freguesia de S. João Batista, Arcebispado de Braga, no testamento feito em 1755, deixa recomendações para 2.305 missas! Outro português, Antônio Antunes da Silva, além de escravos e outros bens relacionados no testamento de 1756, deixou 70.000 oitavas de ouro. Paracatu cresceu com rapidez. 

Em 1745, já pretendia sua elevação a vila e cabeça de comarca. Ouvidas as Câmaras de outras vilas, as opiniões foram certamente contrárias; e, em 1747, Gomes Freire de Andrade, escrevendo ao rei, informava que o descoberto de Paracatu “pôsto que não continue com a opulência primeira, promete duração… parece que, sem a experiência de mais tempo, é supérfluo por ora criar ali vila” (Cód. 45, fls. 77v., A.P.M.). Nôvo abaixo-assinado, com 76 assinaturas, foi dirigido em data de 23 de junho de 1757, pedindo a criação da vila (Avulsos, A.P.M.). A vila, porém, foi criada pelo alvará régio de 20 de outubro de 1798. 

Pelo mesmo alvará foi criado o cargo de Juiz de Fora, para o qual foi nomeado o dr. José Gregório de Morais Navarro, que também fôra encarregado de instalar a vila. Aos 18 de dezembro de 1799, foi realmente instalada a vila, com a denominação de Paracatu do Príncipe e dada posse aos primeiros vereadores eleitos. No ano de 1800, dentro da vila de Paracatu, viviam 266 brancos, 1.026 mulatos livres, 824 pretos livres, 25 mulatos escravos e 796 pretos cativos, num total de 2.937 habitantes. 

Com relação à parte eclesiástica, convém lembrar que Paracatu, como quase tôda a margem esquerda do rio S. Francisco, estava sob jurisdição do Bispado de Pernambuco. Algumas vêzes, não muitas, esteve o Bispo em Paracatu. Em 1825, um ofício de Antônio Paulino Limpo de Abreu informava ao Presidente da Província sôbre o carinho com que fôra ali recebido o Bispo (Avulsos A.P.M.). 

Temos notícia de outra visita, em 1845. Devido justamente à distância e à raridade das visitas pastorais, o vigário da vara de Paracatu tinha poderes quase idênticos ao do Bispo. Houve, por isso mesmo, certos abusos. Já em 1745, Gomes Freire de Andrade, escrevendo ao rei sôbre as divisas dos Bispados de São Paulo e Mariana, aproveitou a oportunidade e descreveu as inconveniências de estarem Curvelo e outras freguesias do Norte de Minas subordinadas ao Arcebispado da Bahia e as minas de Paracatu pertencendo ao Bispado de Pernambuco. “Tem faltado sempre a regularidade que V.M. tanto deseja dar na administração do bem das almas” (Cód. 45, fl. 62). 

No Códice 135 (A.P.M.) — 1761-1765 — encontra-se um abaixo-assinado dirigido ao rei de moradores do arraial de São Luís e Santana contra o Pe. Antônio Mendes Santiago, pelos abusos na cobrança de seus serviços. Sua Majestade fulminou o procedimento do padre, acatando os recursos recebidos (Doc. Inters. vol. XIV). Em 1783, o bispo de Pernambuco recebeu queixas dos moradores contra o vigário Antônio Joaquim de Souza Correia e Melo e seu coadjutor José Severino da Silveira. 

Foi aberta a devassa. (Avulsos de 1784, A.P.M.). O resultado foi a ordem de prisão ao Pe. Antônio Joaquim de Souza Correia e Melo, dada por D. Rodrigo, e sua entrega ao Bispo de Pernambuco (Cód. 239, fl. 41); quanto ao coadjutor, Reverendo José Severino da Silveira, foi dada ordem para que saísse da Capitania dentro de 15 dias (Cód. 239, fl. 41v.). Esteve no Bispado de Pernambuco até 1854, ano em que foi criado o de Diamantina; Paracatu passou então a este Bispado. Hoje, é sede de Bispado. 

Com relação ao topônimo — PARACATU — há divergência entre os que se têm ocupado do assunto. Há os que apontam o nome Paracatu como o primitivo, o original, que apareceu desde os primeiros documentos (Oliveira Melo, ob. cit.). Afonso Arinos já acredita que a denominação primitiva era Piracatu (peixe bom) e que Paracatu seja deturpação (Paracatu do Príncipe, Anuário do Museu Imperial, vol. 6, pág. 89). Saint Hilaire, informa que José Rodrigues Fróis, tendo encontrado, em 1744, peixes de sabor agradável, no Córrego Rico, dera ao país o nome de Piracatu. 

E acrescenta a informação de que o “carimbo do correio traz mesmo o nome de Piracatu (Viagem às Nascentes do Rio S. Francisco, pág. 258). Observamos que o termo Paracatu é bem anterior ao aparecimento de José Rodrigues Fróis na região. E, na verdade, no Arquivo Público Mineiro, encontram-se as duas grafias com bastante frequência e, às vezes, no mesmo documento: A comarca de Paracatu foi criada por alvará de 16 de maio de 1815; alvará régio de 17 de junho do mesmo ano manda seja demarcada a comarca de Paracatu, a de Minas. 

A vila de Paracatu foi elevada à categoria de cidade pela lei n° 163, de 9 de março de 1840. A cidade dá seu nome à zona de Paracatu. O município tem o único distrito da sede. Mas é o 59 município mineiro em área, com 7.882 km2. A cidade de Paracatu passa, atualmente, por fase de grande transformação, desde que passou a ser servida pela rodovia que se dirige para Brasília. A cidade tradicional com sua arquitetura típica, vai cedendo lugar a construções modernas. 

PARACATU — Paragem na freguesia de Congonhas do Campo, termo da vila de São José, comarca do Rio das Mortes, conforme se verifica nos termos da sesmaria concedida em 1756, a Joaquim José de Vasconcelos (Cód. 112, A.P.M.). Com o nome de Paracatu, é mencionado um córrego, na divisa da sesmaria de Jacinto Coelho da Silva, em 1762, nos “Campos Gerais, comarca do Rio das Mortes”. (Cód. 129, fl. 137v., A.P.M.).

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