A região de Piuí foi descoberta, explorada e inicialmente povoada por Batista Maciel, sertanista de São Paulo, em 1731. Neste mesmo ano, dois outros exploradores, o capitão Tomás de Souza, português, e o Alferes Moreira, percorreram o sertão do Piuí. Pode-se, assim, determinar o ano de 1731, como o do seu descobrimento.
O paulista Batista Maciel fixara-se na Piraquara, margem direita do São Francisco, termo da vila de Pitangui. Naquele ano, organizou uma bandeira com filhos, agregados e escravos, explorou o Alto São Francisco, descobrindo faisqueiras no Piuí. Francisco de Assis Carvalho Franco, baseado em Diogo e Basílio de Magalhães, dá-o como partindo de Paracatu, para esta expedição; mas, então, o arraial de Paracatu ainda não existia. (Ver Piraquara, onde se mostra que Batista Maciel foi o primeiro proprietário dessa fazenda).
No mesmo ano de 1731, surgiu Batista Maciel em Pitangui, com a nova do descobrimento de minas de ouro no sertão do Piuí. Imediatamente se organizou uma expedição, tendo à frente o vigário de Pitangui, Pe. Luís Damião, e o Procurador da Câmara, João Veloso Falcão. Como guia, seguiu o próprio Batista Maciel, com sua gente. O grupo era bem numeroso; e a finalidade era tomar posse do “país do Piuí”. Seguiram e realmente tomaram posse daquele sertão, Pe. Damião celebrou missa, a primeira missa em Piuí, em 1731; mas o ouro não foi achado com a grandeza que se esperava. Houve decepção, e Batista Maciel acabou preso, como falso descobridor e causador da grande despesa que a bandeira fez.
Entretanto, dois filhos de Batista Maciel mais alguns agregados, diante daquele fato novo, amotinaram-se, houve troca de tiros, de que resultou ferir-se o Procurador da Câmara, João Veloso Falcão, que recebeu uma carga de chumbo no braço. Livre, Batista Maciel retirou-se, acompanhado dos filhos, agregados e escravos e foi fixar-se nas Perdizes, pouco abaixo, no mesmo São Francisco, mais ou menos no ponto em que se localiza hoje a cidade de Iguatama. (Cônegos Trindade, Instituição de Igrejas no Bispado de Mariana). O capitão Tomás de Souza, natural das ilhas, residia em Pitangui; de posse do famoso roteiro dos Três Morros, percorreu o sertão do Piuí e todo o Alto São Francisco.
O Alferes Moreira, que também partiu de Pitangui, relata seu encontro, no Piuí, com Batista Maciel e Tomás de Souza, na sua “2 Prática ao Pe. Diogo Soares”. Em 1736, foi a região cortada pela Picada de Goiás e aí distribuídas as primeiras sesmarias. Tudo o que já se escreveu sobre essa Picada de Goiás, mesmo pelos historiadores mais autorizados, deve ser revisto. É que novos documentos (ver o verbete Picada de Goiás) trouxeram mais luz a respeito dessa iniciativa. Saliente-se, em primeiro lugar, que não foi iniciativa governamental.
Um grupo de sertanistas se dispôs a abrir a picada e pediu certos privilégios, como a preferência sobre sesmarias, ao longo da mesma picada, e proibição de outros por ali se estabelecerem, no prazo de um ano. Atendidos nessa exigência, foi o respectivo edital baixado pelo governador Martinho de Mendonça, em julho de 1736. Pouco depois de estabelecidos os sesmeiros abridores da picada, tiveram que retirar-se e praticamente se interrompeu o trânsito pela famosa picada. Negros aquilombados assenhorearam-se da região, passaram a assaltar e a causar danos horríveis.
Em 1741, mais numerosos, tornaram-se ainda mais atrevidos. Ninguém podia resistir-lhes. Os bandos de Gomes Freire de Andrade, dessa data, inclusive o que divulgou o famoso alvará que ordenava se colocasse, a fogo, a marca com a letra “F”, na espádua de negros fugidos e aprisionados, nenhum resultado prático trouxeram. As queixas avolumavam-se contra os terríveis quilombolas. Em 1743, providenciou-se um ataque aos negros aquilombados.
Ao capitão Vicente da Costa Chaves foi confiado o comando das tropas. Ao tenente Manoel Cardoso da Silva e ao Alferes Sebastião Cardoso de Meneses foi dada a incumbência de conseguir e ordenar a gente necessária, bem assim auxiliar em tudo o comandante Costa Chaves. Os quilombos foram atacados e destruídos, e a região ficou limpa dos terríveis quilombolas.
Recomeçou, então, o povoamento. Manoel de Souza Portugal, Antônio da Câmara Portugal, José Luís Cardoso, em seus pedidos de sesmarias, alegaram ter-se estabelecido ali em 1743. O primeiro ainda descreveu a região como “um deserto sertão que até agora servira de couto a negros aquilombados, que ali se achavam em grande poder”. Os que haviam abandonado suas sesmarias, “por causa do grande dano que lhes causavam os negros fugidos”, voltaram também, em seguida, ou mandaram seus sócios. E outros se foram fixando: Domingos Rodrigues de Lima, Antônio Francisco França, sargento-mor Felipe Antônio de Ba-rém etc.
Em 1752, intensificou-se a mineração e, provavelmente, iniciou-se o arraial. Nesse ano, aí esteve o Pe. Marcos Freire de Carvalho, que ainda agia como emissário de Mariana, tendo tomado posse do Piuí para aquele bispado (Cônego Trindade, ob. cit.). Em princípios de 1754, quando as minas da Capitania se achavam em geral cansadas e os mineiros, na maioria, desanimados, espalhou-se de repente a notícia: ouro! ouro com grandeza no Piuí! E o “rush” se renovou, com gente do Tamanduá, de São João, de São José, do Brumado, de toda a parte. O Ouvidor da comarca do Rio das Mortes, tão logo soube da corrida para o Piuí, ordenou ao guarda-mor de Passa Tempo se dirigisse incontinente àquele continente a fim de proceder à distribuição das datas, evitando-se as contendas e disputas naturais naquelas circunstâncias.
O mesmo ouvidor, em março de 1754, dirigia-se à Câmara de São José, informando do novo descoberto, da quantidade de gente que se achava já naquele sítio, e outro tanto a caminho, terminando por sugerir à Câmara providenciasse a tomada de posse do lugar, antes que a Câmara de Pitangui o fizesse.
E, no mesmo mês de março de 1754, no dia 28, em casa de morada de José da Serra Caldeira, os procuradores da Câmara de São José del Rei (atual Tiradentes), meirinho Leandro de Arruda e o sargento-mor Francisco José Beserto, tomavam posse do novo descoberto do Piuí, subordinando os moradores do arraial e seus distritos à vila de São José. Interessante é que, entre as testemunhas que assinaram o auto de posse, figuravam dois franciscanos, frei Amaro da Sacra Família e frei José da Imaculada Conceição. Passada a febre de ouro, continuaram os pedidos de sesmarias: Alferes Bento José Vivas, José Vieira da Mota, João Arantes Marques, Antônio José da Silva, Manoel Barbosa Soares, Bento Gonçalves da Costa etc.
Um nome ligado à história de Piuí, Luís Antônio da Silva, obteve sesmaria em 1769, na paragem denominada as Baias. Muitos outros se foram fixando. Na famosa fazenda de S. Miguel e Almas, obtiveram sesmarias, em 1785, o capitão José Rodrigues da Costa, vindo de Carijós, e Antônio Rodrigues da Costa, transferido de Itaverava. Em 1758, o arraial estava próspero; nesse ano, segundo várias fontes teria sido criada a paróquia; entretanto, Dom Frei José da Santíssima Trindade, no ato em que decidiu subordinar a capela de São Roque à freguesia de Piuí, esclarece que esta paróquia foi instituída ,por ato episcopal, em 1754, por iniciativa do fazendeiro Manoel Marques de Carvalho, o fundador da capela de São Roque (Livro de Visitas Pastorais de Dom Frei José da Santíssima Trindade, 1821-1826, fl. 306/307, Arquivo Eclesiástico de Mariana). Esta freguesia foi declarada colativa, por alvará régio de 26 de janeiro de 1803. O primeiro vigário colado, ainda em 1803, foi Pe. Antônio Teles (Cód. 608, D.F., fl. 36, A .P.M.).
Antes, era provida de vigários encomendados; Cônego Trindade menciona a provisão de 6 de julho de 1773, nomeando Pe. José Soares da Silva vigário da vara da freguesia dos novos descobertos do Piauim. Foi a paróquia elevada à categoria de vila, com autonomia municipal, pela lei no 202, de 1° de abril de 1841, desmembrando-se o novo município do de Formiga. E a lei no 1.510, de 20 de julho de 1868, elevou a vila à categoria de cidade.
Com relação ao topônimo — Puí — resta-nos tratar de dois aspectos: a grafia e o significado do vocábulo. Quanto à grafia, nada há que discutir, hoje. O filólogo José de Sá Nunes, contratado como Consultor técnico do Conselho Nacional de Geografia, reformulou a grafia de aproximadamente 1.100 topônimos de origem tupi-guarani (nomes de municípios e de distritos, no Brasil, existentes em 1948); e, entre eles, Piuí, com til sobre o u e acento agudo no i. É a grafia adotada pelo Conselho Nacional de Geografia e, portanto, pelo IBGE, ou seja, a grafia oficializada. Na cidade, porém, todos adotam a grafia Piumhi. Outro aspecto que tem dado muito pano para manga é o significado do vocábulo.
Martius vulgarizou, em seu dicionário, a significação de rio de mosca, água de mosquito. Seria aceitável a denominação e o significado, para uma região além do rio, pois aí havia realmente um brejo abundante de mosquito. O Alferes Moreira faz referência ao assunto, na sua Prática ao Pe. Diogo Soares”, quando diz textualmente: “Entre o piauí e a terra há um grande tremedal, em que são inumeráveis os mosquitos”. Mas, em Montoya (Pe. A. Ruiz de Montoya), pode-se vislumbrar outra origem: pi = interior; uu = mole; i = água e i = até: Mole até o interior? Brejo? Era famoso o brejo aí existente: “Cheguei ao Cururu em 23 dias com marchas pequenas e algumas falhas, depois de passar o Lambari. É o Cururu um brejo grande e distará pelo caminho velho de São Paulo da vila de Pitangui só treze dias de viagem” (Alferes Moreira, 2ª Prática do Pe. Diogo Soares).
Tudo isso, entretanto, cai por terra, se pusermos em prática a lição de Teodoro Sampaio, em o Tupi na Geografia Nacional: para se conseguir a etimologia de um topônimo, em primeiro lugar, deveremos verificar como era grafado primitivamente, nos mais antigos documentos. Ora, em todos os documentos antigos, sem exceção, o nome do lugar e do rio era Piauhy. No rela, tório do Alferes Moreira; em todos os pedidos de sesmaria já mencionados, bem assim nos verificados na última década do século XVIII e princípios do século XIX (Januário José de Souza, Martinho Ferreira de Figueiredo, Francisco de Paula Teixeira, Vicente Teixeira Álvares, José da Silva de Oliveira, João da Silva de Oliveira etc.); a grafia é sempre Piau-hy.
No arquivo de Mariana também se encontram inúmeros documentos com essa grafia, como, por exemplo, um abaixo-assinado de 1823, em que os aplicados da capela de S. Roque pedem fique sua capela filiada à paróquia do Piauhy. Mas, nesse Arquivo Eclesiástico de Mariana, encontram-se também documentos em que se lê Piauim. Assim também escrevia, nos arquivos paroquiais, o primeiro vigário da vara, Pe. Félix José da Silva. Outros vigários escreviam Piuhy.
Pode-se perceber perfeitamente como se foi operando a nasalação do fonema. Ora, a nasalação é um vício que herdamos do indígena. Foi o que frisou a autoridade no assunto, Teodoro Sampaio: “O vício da nasalação, herdado do índio, leva ainda hoje o brasileiro a fazer nasais sons que, em vocábulos portugueses, absolutamente não o são” (Teodoro Sampaio, Língua Portuguesa, 467, in Toponímia Brasileira, Levy Cardoso, pág. 177). Ora, se a grafia primitiva era Piauhy; se, no século XIX, se operou a nasalação do fonema, nós teremos que procurar o significado do termo primitivo, comum e generalizado.
Piuí foi, sem sombra de dúvida, a deturpação do nome primitivo. Temos assim: piau = peixe; i = água, rio; Piauí = rio de peixe. Haveria razão para esse nome e esse significado? Algum motivo especial teria havido para essa designação? Sem dúvida alguma, e é o próprio Alferes Moreira quem no-lo fornece, quando, referindo-se ao Piauí, diz: “tem muito peixe” (documento já citado). Ora, o sertanista, menciona o rio São Francisco; percorreu largo trecho do rio Grande; faz referência ao Lambari; cita o rio Verde, todos muito piscosos; no entanto, só o rio Piauí chamou-lhe a atenção, pela abundância de peixe.
Com relação à grafia com y, o próprio Montoya informa-nos sobre essa preferência em se grafar com y o- fonema que deveria ser representado por i. Parece que não há razão para dúvida: o nome primitivo era Piauí (rio de peixe); em meado do século XIX, o vocábulo foi sofrendo alteração, até chegar a Piuí. Convém ainda deixar bem claro o seguinte: os topônimos de origem tupi, em Minas, não foram criados pelos índios moradores da região. Estes ‘não eram tupis e, logicamente, não poderiam criar designações tupis. Foram os topônimos criados ou pelos índios que guiavam as expedições, índios do litoral, ou pelos próprios bandeirantes, como Batista Maciel, que falavam a língua geral.
NOTA: A propósito de certa monografia sobre Piuí, editada pelo IBGE, na qual há referências sobre explorações em 1708, primeira mima em 1708, sem qualquer citação de fontes, fica-se admirado de como uma organização, como o IBGE, não disponha de elemento de espírito crítico, capaz de impedir divulgação de informações tão ridículas.
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